quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Miguel Sousa Tavares, in ABola


Subscrevo na totalidade a opinião do MST. Em todas as discussões que tenho sobre a matéria apito dourado, o meu combate (já pareço os políticos a falar) vai no sentido de me interrogar o porquê da investigação ser só num sentido. Porquê?

Quanto ao túnel, repito o que disse neste blog: o único denominador comum de todas as confusões chama-se Benfica. Nesta sequência, vem mais uma vez: Porquê? Porque só existem resultados práticos, leiam-se castigos, em jogadores do Porto? Porque é que o Benfica teima em ter pessoas não habilitadas para tal nos túneis? Porque é que não existem inquéritos em situações reportadas, nomeadamente no jogo contra o Nacional e mesmo antes das declarações do Rubem no decorrer do dia de ontem?

Como diz o outro, são questões que ficam no ar, sendo que aplaudo o MST pela forma clara e contundente que mais uma vez expõe a temática.

Finalmente, transcrevo igualmente a escuta do LFV para se perceber quais as diferenças no tratamento. Será o CD Parcial? Mais uma pergunta que fica no ar.

2 Como sempre escrevi, o que fez o Apito Dourado nascer torto desde o princípio foi o carácter selectivo dos seus alvos. O Apito Dourado não visou apurar, de cima a baixo, as eternas suspeitas que pairam, e continuam e hão-de continuar sempre a pairar sobre o futebol português. Se esse fosse o objectivo, haveriam de ter sido escutados não apenas dois alvos — Pinto da Costa e Valentim Loureiro — mas, sim, dezenas deles. E houve um episódio sintomático que veio confirmar isto mesmo. A certa altura do entusiasmo jornalístico com o Apito, o «Público» publicou, inesperadamente, o teor de uma escuta entre Valentim Loureiro e Luís Filipe Vieira (apanhado por arrasto no telefone de Valentim). E o seu conteúdo não podia ser mais óbvio: Vieira telefonara a Valentim a pedir-lhe o afastamento de um árbitro escalado para apitar um Belenenses-Benfica e os dois juntos foram desfilando nomes de árbitros, até que, ao quarto nome, Vieira se deu, enfim, por satisfeito. Mas não sem que antes, e no meio da conversa, tivesse deixado escapar esta frase intrigante: «Como sabe, tenho outras maneiras de resolver o assunto». A divulgação desta escuta caiu como uma bomba no terreno de batalha errado. Nesse mesmo dia, Vieira convocou uma conferência de imprensa, onde se limitou a dizer que não respondia a perguntas nem falava dos factos, apenas avisava os benfiquistas que estivessem alerta contra essas «manobras»; porque mais haveriam de aparecer. E sucederam, então, três coisas curiosas: uma, é que não apareceu mais nada, ao contrário do que ele tinha previsto; outra, é que ninguém, no CD da Liga, achou que uma combinação de árbitros entre o presidente de um clube e o presidente da Liga (que lá tinha sido posto por aquele) violasse a «verdade desportiva»; e a terceira, é que nem o CD nem o Ministério Público acharam que houvesse qualquer interesse em chamar o presidente do Benfica para que este explicasse o que queria dizer com aquela frase de que tinha outras maneiras de resolver assuntos daqueles.

Pois é: há escutas e escutas. Ora, divirtam-se com estas!

3 Também parece que o célebre túnel da Luz tem incidentes gravíssimos e incidentes banais. Os do passado dia 20 de Dezembro foram gravíssimos, embora ainda não julgados. Já os do Benfica-Porto da época passada, parece que estão prescritos ou que não há prova ou que na altura não foram tidos como nada de mais — tal como outros que consta por lá terem acontecido. Sempre, sempre, nesse misterioso túnel da Luz, transformado em território decisivo para o desfecho do campeonato.

4 Na última página da edição de domingo de «A Bola» li um curiosíssimo artigo, que me deixou a meditar. Embora o mesmo seja anónimo (o que não é prática da casa), o seu teor aponta para alguém dentro do próprio CD da Liga (a menos que o autor seja um desses «fretistas» de que falava o texto de Rogério Azevedo na mesma edição). De facto, só alguém dentro do CD pode revelar um tão íntimo conhecimento do processo de averiguações aberto a Hulk e Sapunaru, ao ponto de falar na «abundante prova testemunhal» recolhida contra eles e acrescentar que, embora a lei não permita a incriminação com base nas célebres imagens nunca vistas mas já sobejamente conhecidas, o CD encontrará o expediente para se aproveitar delas. Mais curioso ainda é quando, para tentar justificar o injustificável escândalo de uma suspensão prévia que vai já em cinco jogos, se escreve que essa demora está «plenamente dentro de uma média que tem oscilado entre as quatro e as oito semanas, o que esmaga por completo a tese da extraordinária morosidade deste processo». Eu li e confesso que quem ficou esmagado fui eu. Primeiro, porque não é normal este jornal tomar uma posição de princípio, e tão veemente, sobre processos disciplinares em que nem sequer a acusação é ainda conhecida. Depois, porque bem gostaria que me dissessem quais foram os outros casos de suspensão prévia de jogadores por um período de quatro a oito semanas. E, enfim, porque em abono da tão invocada verdade desportiva e da verdade do futebol jogado em campo, eu acharia que «A Bola» mais depressa se bateria para que um jogador como Hulk não ficasse de fora do jogo dois meses, apenas à espera da sentença. E se, em vez do Hulk, fosse o Saviola?

Escuta LFV:

Luís Filipe Vieira (LFV) - Eu não quero entrar mais em esquemas nem falar muito...

Valentim Loureiro (VL) - Eu penso que ou o Lucílio... o António Costa, esse Costa não lhe dá... não lhe dá nenhuma garantia?

LFV - A mim?! F.., o António Costa? F... Isso é tudo Porto!

VL - Exacto, pronto! (...) E o Lucílio?

LFV - Não, não me dá garantia nenhuma o Lucílio!

VL - E o Duarte?

LFV - Nada, zero! Ninguém me dá!... Ouça lá, eu, neste momento, é tudo para nos roubar! Ó pá, mas é evidente! Mas isso é demasiado evidente, carago! Ó major, eu não quero nem me tenho chateado com isto, porque eu estou a fazer isto por outro lado. (...)

VL - Talvez o Lucílio, pá!

LFV - Não, não quero Lucílio nenhum! (...)

VL - E o Proença?

LFV - O Proença também não quero! Ouça, é tudo para nos f...!

VL - E o João Ferreira?

LFV - O João... Pode vir o João. Agora o que eu queria... (...) Disseram que era o Paulo Paraty o árbitro... O Paulo Paraty! Agora, dizem-me a mim, que não tenho preferência de ninguém (...) à última hora, vêm-me dizer que já não pode ser o Paulo Paraty, por causa do Belenenses.

2 comentários:

  1. Relativamente às questões que colocas, e para que não fique nada no ar, como dizes.

    O porquê da investigação ser só num sentido? Porque normalmente só se investiga que tem fortes indícios de ser corrupto. Alguma vez foste investigado pela PJ?

    E outra. Quem te disse que são só num sentido? MST sabe que não investigaram o Benfica e o Sporting? Já te passou pela cabeça a hipótese de não terem encontrado nada?

    Stewards, elementos estranhos? Talvez não saibas que os stewards foram aprovados pela Liga de Clubes, o mesmo quer dizer também pelo FCP. São estranhos pq?


    “o único denominador comum de todas as confusões chama-se Benfica”.
    Que argumento demagógico. Falemos das questões concretas, e não encontres generalizações, para justificar o injustificável.

    É que dessa forma, eu também só vejo o FCP nos túneis. Vi esta época, vi a época passada, vi o Ruben Micael que deixou de ter amnésia quando foi para o FCP, e vejo um Braga, que me parece mais a filial número 1 do FCP.

    Vês, que é tão fácil ser demagógico.

    As questões concretas são:
    - é justificável para ti, que Hulk e Sapunaru depois de estarem dentro do balneário, voltem a sair e espanquem os stewards; Que grandes provocações. E desde quando provocações legitimam a violência?


    Porque é que não existem inquéritos em situações reportadas, nomeadamente no jogo contra o Nacional?
    Provavelmente porque o Nacional não apresentou queixa, não é. Tal como o FCP não apresentou queixa da alegada agressão do seu dirigente, mentindo na justificação de não o ter feito, como já desmascarei aqui.

    Confesso que comecei a ler a crónica de MST, mas não tive paciência de a terminar. Já te dei a opinião das escutas de LFV várias vezes, e principalmente da forma super-hiper-mega parcial com que MST defende o FCP. Por isso nem sequer considero a argumentação dele válida.

    Mas apraz-me registar uma evolução na vossa argumentação ao longo dos anos:
    - primeiro Pinto da Costa era um santo;
    - depois apareceram as escutas, e Pinto da Costa deixa de ser santo. Mas ainda bem que não é, porque os outros também não são. É a táctica da generalização.
    - agora, como não se encontra nada dos outros, a culpa é do carácter selectivo dos alvos.

    Lindo!

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  2. Há quem opte pela táctica da generalização, e há quem opte por uma espécie de 'fundamentalismo' (sério, refira-se) de enterrar a cabeça na areia (quando interessa) mantendo-se assim imune aos argumentos (falácias, obviamente) dos demais.
    É a esta SERIEDADE que devemos todos atender, e é esta SERIEDADE que devemos todos proclamar.

    "Já te passou pela cabeça a hipótese de não terem encontrado nada?"

    Aconselha-se que não desistam! Como se usa dizer, "quem espera sempre alcança".

    "Talvez não saibas que os stewards foram aprovados pela Liga de Clubes (...)"

    Para formarem um cordão humano que acompanha 'serenamente' a saída de campo - isolada - do clube de fora, quando não se verifica a presença no local de qualquer elemento da equipa da casa. Digamos que é uma espécie de consolo ou apoio psicológico, para quem acaba de perder o jogo. Nada mais que um acto de boa fé, e SÉRIO, claro.
    Já agora e para que conste: foram aprovados pela Liga com o intuito de controlarem os adeptos e exercerem acção dissuasora de qualquer tentativa de acção menos própria dos mesmos. No túnel, está previsto que a autoridade seja assegurada por elementos da força policial.

    "- é justificável para ti, que Hulk e Sapunaru depois de estarem dentro do balneário, voltem a sair e espanquem os stewards; Que grandes provocações. E desde quando provocações legitimam a violência?"

    Ao menos que já se aceita ter havido provocações que, obviamente não legitimam a violência, como nada legitima de resto.
    Acho mesmo (em apelo à SERIEDADE que se exige) que de facto, os jogadores decidiram regressar dos balneários e "espancar" (c'um caneco) os stewards, sem qualquer motivo, à moda do Porto, sejamos SÉRIOS.

    "Confesso que comecei a ler a crónica de MST, mas não tive paciência de a terminar. Já te dei a opinião das escutas de LFV várias vezes, e principalmente da forma super-hiper-mega parcial com que MST defende o FCP. Por isso nem sequer considero a argumentação dele válida."

    Como eu compreendo quem assim pensa...
    Apesar de tudo, opto sempre por ler os seus post's e comentários até ao fim, mais não seja para verificar quão imensa pode ser a falta de rigor, ainda assim SÉRIA.

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