terça-feira, 12 de janeiro de 2010

MST estava a pedi-las

Confesso que tenho feito um esforço em não transcrever crónicas de outros autores que não os do blog, anuindo a uma ou outra crítica que já me foi aqui feita.

Mas desta vez não resisto. E não resisto porquê? Porque até agora é a crónica com que mais me identifico desde há alguns anos para cá. Tem lá tudo: a resposta merecida a um faccioso portista (MST), o aproveitamento que se está a fazer do julgamento do Apito Dourado, onde há claramente uma diferença entre a não existência de provas, e o facto de se estar inocente. O facto de não estar provado, é muito diferente de estar provado que não aconteceu.
 

O autor é Zé Diogo Quintela (Gato Fedorento), depois de ter recebido uma ameça de Miguel Sousa Tavares, de o processar em tribunal. Anda tudo nervoso com o terceiro lugar. Processar um "Gato Fedorento" é do mais triste que existe, mas enfim... convicções.


Aqui vai a transcrição (é extenso, mas vale a pena).


NA terça-feira, Miguel Sousa Tavares escreveu: «Desde que esta época se iniciou, eu tinha feito a mim mesmo uma promessa: aguentar-me até ao limite para não dar alento nestas crónicas ao clima habitual de facciosismo cego que alimenta ódios e suspeições sem fim e impede de ver e reconhecer o mérito alheio onde ele existe. Já lá vai decorrido meio campeonato e nunca, uma só vez que fosse, me pronunciei sobre arbitragens: quer as do meu clube, quer as dos outros; elogiei, mais do que uma vez, os progressos evidentes do futebol do Benfica, escrevendo que era a equipa que mais e melhor estava a jogar, e não tive uma dúvida em reconhecer como mais do que justa a sua vitória recente sobre o FC Porto. Fiz o que pude para a sanidade do ambiente. E aguentei-me até onde consegui. Mas, às tantas, as coisas começam a ficar difíceis de encaixar sem reagir. Anteontem, por exemplo, ao ler o texto, pretensamente engraçadinho, do Diogo Quintela, achei que a direcção do FC Porto deveria abandonar a sua tradicional passividade litigante e colocar-lhe um processo-crime por difamação, como o seu texto amplamente merece. Talvez ele prefira a justiça popular à justiça democrática, talvez prefira a verdade popular à verdade apurada como tal; talvez as sentenças da justiça comum (e não a da populaça futebolística) lhe não mereçam respeito algum, talvez mesmo nem sequer se dê ao trabalho de as conhecer. Mas certamente sabe que insistir em mentiras desmascaradas pela justiça é uma calúnia e sabe que ofende, não apenas o presidente do FC Porto, mas todos os portistas, quando se diverte a escrever pretensos diálogos em que Pinto da Costa compra um árbitro por 2.500 euros. Goebells [sic] dizia que uma mentira repetidamente dita transforma-se em verdade. Mas Goebells [sic] perdeu e as democracias triunfaram. Talvez Diogo Quintela não goste, mas é assim: há regras no jogo.»

O leitor deve estar a perguntar-se qual a diferença entre a verdade popular e a verdade apurada como tal. Eu sei que estou. Existirão várias verdades para o mesmo facto? Por exemplo, MST diz: «Já lá vai decorrido meio campeonato e nunca, uma só vez que fosse, me pronunciei sobre arbitragens». Mas na sua crónica de 15/12/09, já tinha escrito «o que valeu ao Benfica em Olhão foi, como é habitual também, os últimos minutos do jogo, um fiscal de linha desatento à posição de Nuno Gomes no golo do empate e um árbitro atento ao facto de domingo haver um Benfica-Porto, quando se encaminhou para Cardozo, depois de expulsar Djalmir, e pelo caminho mudou o vermelho a Cardozo para amarelo». (Entretanto, peço ao leitor que memorize o facto de MST achar que, ao não expulsar Cardozo, o árbitro beneficiou o Benfica. Vai-nos ser útil mais à frente).

Esta afirmação em que MST se vangloria de «nunca, uma vez que fosse» ter falado de arbitragens, nem repetida muitas vezes passava a verdadeira. Mesmo pelo tal Goebells. Ou pelo próprio Goebbels. A não ser que eu e MST tenhamos um entendimento diferente do que é: nunca, uma vez que fosse. Ou, se calhar, temos um conceito diferente de verdade. MST acha que é verdade que esta época não se tinha ainda pronunciado sobre arbitragens. Já eu acho que é mentira. Os factos, curiosamente, também acham que é mentira. E o que dizem os factos da noite que deu origem ao Caso do Envelope, no qual me baseei para imaginar o tal diálogo pelo qual MST quer que eu responda em tribunal?

Dias antes do Beira-Mar – Porto, Pinto da Costa recebeu em casa Augusto Duarte, o árbitro desse jogo. Este é verdade. Pinto da Costa disse ter sido surpreendido, mas há escutas em que combina a visita com António Araújo, o intermediário do encontro, e outras em que lhe dá indicações sobre o caminho para sua casa. A mesma casa onde não esperava receber a visita que tinha acabado de lhe dizer que estava a chegar. Este também é verdade. Pinto da Costa disse que Carolina Salgado estava doente e não se cruzou com as visitas. As visitas e a própria Carolina dizem que é falso. Até agora, uma das pessoas que habitava naquela casa da Madalena está a mentir. Uma pista: não é a Carolina Salgado. Bom, isto está provado.

O que não está provado é outra coisa. Digo: não está provado, que é muito diferente de: está provado que não aconteceu. E a coisa são duas versões contraditórias. MST prefere acreditar na de Pinto da Costa, quando este diz que serviu de conselheiro matrimonial ao pai de um árbitro, do que acreditar na de Carolina Salgado. Entre essas duas pessoas, eu prefiro acreditar na que não é presidente de um clube que, por exemplo, pagou uma viagem ao Brasil a um árbitro.

O que também está provado é que, aos 15 minutos desse jogo, Augusto Duarte perdoou a expulsão a um jogador do Porto. A juíza achou que uma expulsão perdoada não é suficiente para uma equipa ser beneficiada? Eu não concordo. E, pelos vistos, MST também não. (Agora é a altura em que peço ao leitor que se recorde que MST considera que o Benfica foi beneficiado por o árbitro não ter expulso Cardozo. Valeu ou não valeu a pena guardar a informação?)

Na mesma crónica de 15-12-09, MST tinha-se referido ao tal Beira-Mar – Porto como «um jogo que já não contava para nada». Uma peta que MST e outros portistas gostam de repetir e que, lamento, não se vai tornar verdade.

Antes desse jogo, o Sporting estava em 2.º lugar, a 5 pontos do Porto. Havia 12 pontos em disputa. O Porto alinhou em Aveiro sem muitos titulares, pois 3 dias depois ia jogar a 1.ª mão da meia-final da Liga dos Campeões. Na mesma jornada o Sporting foi prejudicado no Bessa, quando Bruno Paixão expulsou Rui Jorge e assinalou fora-de-jogo antes do meio-campo a um Liedson isolado. O Sporting (que estava a ganhar) ficou injustamente reduzido a dez e perdeu. O Porto permaneceu injustamente com 11 e não perdeu.

Se o Sporting tivesse ganho e o Porto tivesse perdido, o Sporting ficava a 2 pontos e o Mourinho já não podia descansar outra vez a equipa, na 33.ª jornada, antes da 2.ª mão da Champions, na Corunha. Como fez, já campeão, perdendo com o Rio Ave. Alinhou nesse jogo com Pedro Ribeiro, Pedro Emanuel, Mário Silva e Ricardo Costa na defesa, em vez dos habituais titulares Ricardo Carvalho, Nuno Valente, Jorge Costa e Paulo Ferreira.

Eu cuido que este Beira-Mar – Porto ainda contava para alguma coisa. Por mais que o MST, pensando no Goebbels, repita que não.

Recapitulemos, então. O presidente do FC do Porto recebe em casa o árbitro que vai apitar o próximo jogo do seu clube. Mente sobre estar à espera dele e sobre a presença de Carolina Salgado. Carolina Salgado diz que foi passado um envelope com 2500 euros, Pinto da Costa e o árbitro dizem que não foi. No entanto, contra o Beira-Mar, o Porto é beneficiado ao não ser expulso um seu jogador logo aos 15 minutos, num jogo que era importante para o campeonato e para a Liga dos Campeões. A justiça desportiva castiga o Porto por corrupção, o Porto não recorre. A justiça comum não desmascarou nada disto.

É isto que Miguel Sousa Tavares quer que eu vá dizer a tribunal? Por mim, tudo bem.

9 comentários:

  1. Pois é...

    O que eu acho mesmo é que tanto o papa como os «cães do Senhor»* (como esse MST) deviam era estar caladinhos. Pelo menos enquanto a gente se lembrar.

    ResponderEliminar
  2. aos 15 minutos do jogo Porto Beira Mar o árbito perdoou um vermelho a 1 jogador do Beira Mar não do porto. cmo isto anda.

    ResponderEliminar
  3. As coisas já iriam mal por si mesmas, não precisariam de tanto alarido dos velhos profetas da desgraça, mas alguns ainda se martirizam a tornar tudo isto bem pior do que é, até fazendo do futebol bem mais do que um jogo, tornando-o qualquer coisa de dramático e, por isso, premeditando um género de vingançazinhas personalizadas num género de conforto das suas vidinhas medíocres.

    Pode o governo desgovernar-nos, a oposição desoposicionar-se, o desemprego aumentar, a produtividade diminuir, o défice crescer, a esperança definhar, os ricos somarem-se e os pobres sumirem-se que nada nos agita mais do que o futebol, as derrotas e as vitórias que são e serão, sempre, efémeras, mas que se julgam como definitivas, anulando a inteligência dos homens, tornando-os primários, quase irracionais, estrangulados de raiva, cegos de ira e, por isso, incontroláveis nos pensamentos e nos actos.

    O que admira é que no auge das emoções, as pessoas tão facilmente enterrem saberes e bons sensos, como se desatassem os nós de cordas que, antes, os impediam de ser simplesmente imbecis.

    Um pouco de ordem em cada cabeça, se faz favor. Pelo menos naqueles que dela não se servem, apenas, para pôr e tirar o chapéu. Haja a decência de preservar a natureza inteligente do homem, sem que para isso seja preciso matar o futebol.

    ResponderEliminar
  4. Jmma, eu como cão do senhor, não tenho nada que estar caladinho. Desculpe lá qualqer coisinha. Mas lembra-se de quê? Eu também me lembro de muita coisa...

    Abraço.

    ResponderEliminar
  5. Ah, não li o texto do Zé - quintela, entenda-se). POrque os do Zé (Luis) papo-os todos.

    Abraço.
    VP

    ResponderEliminar
  6. Vitor:

    Quero dizer-lhe com toda a sinceridade que não tenho nessa conta. Nem me passou pela cabeça que v. pudesse agarrar o «chapéu». Mas como parece que agarrou... Zzzás! Dê-mo cá, que não é seu.

    Peço desculpa por não ter sabido evitar o equívoco.

    Poderia explicar-lhe o meu conceito de «cães do Senhor», onde felizmente não cabe ninguém das pessoas com quem me dou. Aliás, a própria expressão « » tem a sua história engraçada. Mas não é agora o momento mais oportuno para entrar em detalhes.

    Só quero pedir é que apague da ideia.

    Abraço,
    JMMA

    ResponderEliminar
  7. Mas olha que fazias bem em lê-lo.
    Aliás até fazia questão que o lesses.

    ResponderEliminar
  8. Como li algures na blogosfera, não deixa de ser curioso que alguns entendam que uma escuta telefónica não possa ser considerada em Tribunal mas um momento de ficção proporcionado por um humorista num jornal já possa...

    ResponderEliminar
  9. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

    ResponderEliminar