Nunca acreditei que o Benfica iria abrandar ou baixar de rendimento, apesar do empate em Alvalade e de ter deixado de dar goleadas. Tenho a noção de que é impossível ganhar todos os jogos e marcar sempre muitos golos. Há, no entanto, uma grande diferença em relação aos últimos anos, que é a cultura e a sede de vitória. Essa é a principal mudança deste Benfica, que à medida que marca golos quer cada vez mais. Isso empolga os jogadores, dá-lhes uma enorme vontade de vencer e faz com que a equipa apresente esta dinâmica. Mas é preciso sublinhar a preocupação de Jorge Jesus em manter a equipa equilibrada defensivamente, que ataca muito embora não o faça à toa.
Por João Pinto in O Jogo
Pelos insondáveis desígnios da sorte e do sorteio, traduzíveis na sua chegada ao comando do Atlético Madrid e ao calendário da Liga dos Campeões, Quique Flores voltou às páginas da Imprensa portuguesa - por razões de profissão. Seria quase inevitável desafiá-lo a falar da temporada do Benfica - e assim se fez. O técnico espanhol explicou o salto da equipa em que trabalhou com "a qualidade dos reforços". Ninguém duvida que os encarnados ganharam qualidade e dinâmica com as chegadas de Saviola (o ressuscitado), de Ramires (o confirmado) e de Javi García (a revelação). E que, por consequência, o plantel da presente temporada é mais forte - além de mais variado - do que o da época anterior.
Ainda assim, não terá sido por esquecimento ou distração que o treinador-cavalheiro passou por cima do "fator" Jorge Jesus, talvez porque a guerra de bastidores no final da época anterior e a rendição lhe tenham deixado amargos de boca... Teria sido útil, no entanto, ouvir Flores discorrer sobre a capitalização do talento único de Pablo Aimar, finalmente colocado no seu lugar, estrategicamente protegido de desgastes supérfluos; sobre o rendimento multiplicado de Oscar Cardozo, a quem - pelos vistos - bastava dar a prova de confiança que não teve noutros tempos (coincidindo com a colocação de Suazo no papel de estátua de área que se lhe não molda) e municiar decentemente; sobre a explosão de Angel di María, cada vez mais distante de irregularidades e inconsequências que ameaçaram tornar-se imagem de marca. Mais: Ruben Amorim, menos vezes titular, é agora mais útil e mais jogador de equipa do que colocado artificialmente na ala direita; Luisão está a fazer a melhor época de sempre no clube; David Luiz, afastado o espetro da lateral-esquerda, ganha dimensão mundial... Já Balboa, reforço de Quique, é bota que ainda não se percebeu ao certo como vai ser descalça. Razão para concluir que Quique perdeu quando silenciou a outra metade da verdade - quem cala, consente, também neste caso.
Por João Gobern in Record
Curiosa a estatística publicada sobre os jogos da Liga. A equipa do Benfica de Jesus — o tal treinador que muitos etiquetavam, com base numa afirmação sua, como desconhecedor do fair-play — exibe o melhor comportamento disciplinar. Ainda que não pare o jogo por causa das cenas de cinema que alguns jogadores teimam em desempenhar no campeonato português, utilizando a simulação de forma despudorada.
Fernado Seara, in "A Bola"
E como não falar daquele outro, o golo que falta? Maxi chega ali às esquinas da área e larga a bola para a frente; Saviola recebe-a, um toque económico de pé esquerdo, ajeitando e avançando de uma só vez. Como um grande poeta da simplicidade, uma palavrinha e dois belos sentidos. E agora, silêncio, por favor, amigos. Silêncio, que se vai dançar o tango. Um tango minimalista, só coração e dedos dos pés. Javier Saviola, nosso pequeno deus argentino, faz a chuteira entrar e sair debaixo da bola e esta, zás, muda-se em chapéu, folha seca, obra-prima.
Por Jacinto Lucas Pires in JN
A dupla formada por Cardozo e Saviola tem-se mostrado insaciável e chega ao início de Dezembro com registos imbatíveis nos últimos 45 anos no Benfica. Juntos, o paraguaio e o argentino somam 31 golos. E é preciso recuar até 1964/65 para encontrar números melhores a 6 de Dezembro, data do último jogo oficial dos encarnados. A proeza foi conseguida por Eusébio e José Torres, que chegaram a esta altura da temporada com 35 golos. Números que não espantam, já que se tratam do primeiro e quarto melhores marcadores da história do clube, com 473 e 226 golos, respectivamente.
Por Bruno Venâncio in O Jogo
Deste Benfica-Académica extrai-se, no entanto, conclusão a suscitar inquietação e reflexão. Tem a ver com a tendência cada vez mais forte de atribuir a David Luiz o papel de mau da fita na Liga. O brasileiro joga sempre nos limites, seja qual for o opositor, fruto da sua irreverência e da sua inexcedível vontade de ganhar. É um campeão que transborda talento. Para ele, o máximo é o ponto de partida, não de chegada. Carrega os defeitos e os excessos de um jovem de 22 anos que trata o sucesso por tu. Precisa de ser aperfeiçoado, somente isso. Vai no quarto cartão amarelo, e merecidos, por certo. O que se questiona são os critérios. No ano passado, por exemplo, o central benfiquista, depois de prolongada ausência, em 19 jogos da Liga, viu os mesmos quatro amarelos, mas, comparativamente, Bruno Alves, em 30 jogos, com as características que se lhe conhecem, só por três vezes foi admoestado.
Por Fernando Guerra in A Bola
O grande remate de Miguel Veloso, o voo, fantástico, de Quim, de um local onde parecia impossível chegar para desviar a bola das redes. No dérbi, a maior oportunidade foi do Benfica (Di Maria com tempo para tudo...), mas o melhor remate foi do Sporting... Não é a mesma coisa. Entre o remate que ficou perto do golo e a melhor oportunidade para fazer golo, existe a diferença que faz o jogo colectivo da equipa até colocar a bola perto da baliza. É então que surge o guarda-redes. Na Luz, Quim tem feito uma carreira "contra a corrente". Sempre com olhares desconfiados.
Não faz sentido. Porque as suas defesas "impossíveis" falam por ele. Será uma questão de imagem. Não é, de facto, o protótipo do guarda-redes elegante. Cabelo desgrenhado, camisola que parece grande... Não dá a sensação de 'encher' a baliza. Mas 'enche'. Vê-se quando a bola lhe chega perto. A imagem é uma ilusão estética. Basta tirar bem as medidas. Por isso, para ele ver hoje a selecção como uma miragem, é apenas mais uma página numa carreira feita a combater avançados e... fantasmas.
Por Luís Freitas Lobo in Expresso.pt
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