quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Toques de Cabeça

A Marcha contra o Sporting
Por JMMA


Acabou a paciência dos adeptos do Sporting. E não foi por causa do amadorismo a que as últimas direcções do Sporting chamaram eufemísticamente «Projecto Roquette». Nem por causa da péssima gestão desportiva que afundou as esperanças dos leões no segundo terço da tabela classificativa. O balde que fez transbordar o copo foi, neste caso, a promoção de bilhetes.

Convém explicar: o Sporting lançou uma promoção de bilhetes para o futebol; a promoção é reservada a casais e os casais terão de ser constituídos por um homem e uma mulher. Ora, foi aí que um sócio anónimo e diversos activistas explodiram de indignação contra o clube de Alvalade e queixaram-se à ASAE de discriminação sexual. Nisto vem um deputado, daqueles que se vê mesmo que estão todos os dias preocupados com os instantes problemas da Nação, e clama que a restrição, de facto, é "inaceitável", "ilegal" e “pura maldade”.

Quando recuperei da estupefacção (ainda para mais o Eurostat acabara de dizer que o desemprego em Portugal tinha passado a barreira histórica dos 10%) também eu me pus a pensar nas alegações que colocavam o Sporting na berlinda. Devo dizer que, em nenhum sentido, tenho interesse directo no assunto. Primeiro, porque sou benfiquista. Depois, porque os meus dicionários ainda são daqueles que definem casal como par composto por macho e fêmea, marido e mulher. Mas se o senhor deputado diz que a promoção de bilhetes só para os casais homem e mulher é "pura maldade", e os sportinguistas vão-se queixar do Sporting à ASAE, quem sou eu para os contrariar? E acho mais: nem a maldade é só do clube de Alvalade (nesse caso até os dicionários são uns maldosos) nem os lesados são só os homossexuais de Alvalade.

Na verdade, se vedar a possibilidade de comprar bilhetes do Sporting com desconto aos casais homossexuais é considerado maldade, então tenho para mim que maior maldade será fazê-lo em relação ao casamento poligâmico (um homem e três mulheres, uma mulher e quatro homens). Mais: e se o sexo não for nem o mesmo nem o oposto? Eu, por exemplo, conheço (toda a gente conhece) inúmeras parelhas lésbica/travesti e transgénero/andrógino que andam mortinhas por comprar bilhetes do Sporting com desconto. Isto para não falar nos casais (resmas deles!) compostos por um heterossexual e um transexual-em-curso e que sonham com um lugar cativo em Alvalade.

Senhores dirigentes do Sporting: «desculpa», é a nova buzz word do marketing institucional. Os países, os líderes religiosos, as empresas desunham-se para encontrar razões para pedi-la. Diz-se que o povo aprecia o cheirinho de contrição e humildade que estes anúncios soltam e os sportinguistas, com certeza, não são excepção. Permitam-me uma recomendação: esqueçam o dicionário, façam lá o descontinho aos rapazes ou às raparigas, sei lá!

Bem sei que há um problema. Imagine-se que o meu vizinho(a) hemafrodita (como a tal atleta sul-africana, a Caster Semenya, campeã do mundo dos 800 metros) quer beneficiar sozinho(a) da promoção – como provar o direito em cima da hora do jogo? É um problema, sim. Mas fora isso, tudo bem.

De resto, pode ser até que os deputados finalmente decidam ocupar-se dos problemas do País, esses que vêm no Eurostat.

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