terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Toques de Cabeça

A FALÁCIA NORTE-SUL
Por JMMA



Se há tolice que me deixa fulo, é a da vitimização regionalista do Norte contra o Sul, do Norte contra o Terreiro do Paço, enfim, do galo de Barcelos contra o pirilau das Caldas.

Enjoa-me esse tipo de rivalidade entre o Norte e o Sul. Em primeiro lugar porque gosto de ambos. Embora pareça uma actriz brasileira no Carnaval da Mealhada que não faz ideia onde está e não quer ofender ninguém, a verdade é que acho que Norte e Sul ficam muito bem em cima um do outro e que Lisboa e Porto são duas cidades maravilhosas em qualquer parte do mundo. Gaguejo se tenho de escolher entre Norte e Sul. Escolher, escolho (o Alentejo) mas sinto que atraiçoei tudo o que preteri. A questão é tão absurda como se me perguntassem qual a parte que mais gosto da minha mãe.

Mas este tipo de rivalidade recorrente entre o Norte e o Sul tira-me do sério ainda por outra razão. É que é falsa. Não passa duma ficção instrumental e hipócrita. Sou contra a estreiteza de vistas que vê apenas o eixo Norte-Sul à frente. É uma dissimulação cobarde. Porque o verdadeiro contraste é entre o litoral e o interior. Em Portugal, são esses os termos da comparação honesta. Sobretudo no futebol. Se repararmos, de todos os clubes da Liga Sagres (exceptuando os da Madeira, naturalmente) o mais afastado da costa é o Guimarães, a uns “inimagináveis” 50 km do mar! Portugal tem 220 km de largura. Em todo o caso, a própria dicotomia norte-sul é, em si mesma, uma balela. Abaixo de Leiria encontramos apenas 5 dos 14 clubes do continente participantes na Liga Sagres. Mas se atravessarmos o Tejo já só temos 2, e um deles, o Setúbal, integrado na Grande Lisboa.

Portanto, não me lixem. O verdadeiro contraste é entre Portugal ocidental e Portugal de leste. O leste não tem mar, leva com o clima do deserto espanhol nas costas, é sufocante no Verão e gelado no Inverno. As populações de Leste que reclamam consideração pela sua dignidade, essas sim, estão cheias de razão, porque todas as semanas são obrigadas a “deslocar-se” para os grandes centros da civilização ocidental, onde (bem ou mal) as coisas importantes se tratam.
E para maior azar deles, nem futebol têm para se entreterem. Ou para o presidente do clube os entreter prometendo «continuar a lutar a favor da dignidade [dessas] gentes».
Voilá, la diference.

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